Biografia
António Galopim de Carvalho, referência nacional e internacional nas áreas de estudo da Sedimentologia, Estratigrafia, Paleontologia e Geologia Marinha, é conhecido em Portugal como o "avô dos dinossauros". Mas podia ser também o "avô da Geologia", tal é o seu compromisso com a divulgação e valorização desta área do conhecimento.
Nasceu em Évora, a 11 de agosto de 1931, e começou por se interessar pela Geologia quando, em criança, um dos seus professores o convidou para organizar uma coleção de minerais. Apesar disso, António Marcos Galopim de Carvalho não gostava da escola e era mau aluno. O que realmente o movia era a genuína vontade de aprender e de saber, o que o levou a experimentar outros ofícios ao longo do seu percurso, como os de carpinteiro, sapateiro, ferrador ou delegado de informação médica.
Dedicou-se igualmente à pintura e à escultura e gosta de cozinhar, de escrever e, acima de tudo, gosta de pessoas, a quem tenta incutir a visão transcendental com que um geólogo observa o mundo e a sua constituição física.
Os geólogos olham para os seixos de uma praia, ou as rochas de uma falésia, e conseguem visualizar os processos que originaram aquelas paisagens. António Galopim de Carvalho apurou esse "superpoder" com um curso em Ciências Geológicas na Universidade de Lisboa, que concluiu em 1959 e que tinha iniciado já depois de se casar e após ter estado um ano a estudar Biologia. Seguiram-se os doutoramentos em Sedimentologia, pela Universidade de Paris (em 1964), e em Geologia, pela Universidade de Lisboa (em 1968).
Entretanto, começara a lecionar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1961, atividade que manteve até 2001, tendo estado também nas universidades dos Açores e do Algarve. Em Lisboa, no Instituto de Geografia da Faculdade de Letras, criou e dirigiu um laboratório de Sedimentologia e entre 1983 e 1993 foi diretor do Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Lisboa.
Falar de António Galopim de Carvalho é também falar da defesa e preservação do património cultural e científico. Um dos pontos altos da sua intervenção em prol do património geológico dá-se em 1990, quando toma conhecimento de que a CREL (Circular Regional Exterior de Lisboa) ia ser construída em cima da jazida com pegadas de dinossauros de Pego Longo (Carenque), descoberta em 1986 por dois antigos alunos seus. Na qualidade de diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (cargo que assumiu de 1992 a 2003), pressionou a administração central para que protegesse aquele trilho de pegadas, com cerca de 95 milhões de anos (Cretácico). A luta foi ganha (em parte) e o governo acabou por autorizar a abertura de dois túneis por baixo da jazida. Falta, agora, proceder à musealização do local. O projeto para o efeito foi aprovado pela Câmara Municipal de Sintra em 2001, no entanto aguarda financiamento desde então.
Enquanto dirigiu o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), organizou ainda a exposição "Dinossáurios regressam a Lisboa", que recebeu cerca de 347 mil visitantes em apenas 11 semanas e fomentou o entusiasmo pelos dinossauros no nosso país. Promoveu também a realização de dois importantes encontros científicos de nível internacional, o 1st International Symposium on Mineralogy (1994) e o 1st International Meeting on Dinosaur Palaeobiology (1998).
António Galopim de Carvalho fundou igualmente duas séries de publicações científicas, a revista "Gaia" – Revista de Geociências (com 16 números publicados) e a revista "Memórias de Geociências" (com 2 volumes publicados) e participou em colóquios e conferências, orientou debates, quer a nível nacional quer a nível internacional, e foi o responsável científico de vários filmes e exposições de divulgação científica.
A sua aptidão para a comunicação de ciência estende-se ao domínio da escrita. António Galopim de Carvalho publicou diversos livros, entre os quais "Vida e Morte dos Dinossáurios" (1991), "O Cheiro da Madeira (1994)", ou "Morfogénese e Sedimentogénese" (1996). Além disso, é autor do blogue "Sopas de Pedra" e coautor dos blogues "Sorumbático" e "De Rerum Natura". Mas é no Facebook que podemos encontrar a maioria dos seus textos de divulgação científica. Colaborou ainda na revisão científica de obras no domínio das suas competências e em séries exibidas pela RTP, SIC e TVI.
A concretização do Museu do Quartzo, em Viseu, é outro projeto em que esteve envolvido. Inaugurado em 2012, o museu foi oficialmente designado por Centro de Interpretação Galopim de Carvalho e há também duas escolas, uma em Évora e outra em Queluz, com o nome Galopim de Carvalho.
Toda a excelência de António Galopim de Carvalho foi devidamente reconhecida em 1994, ao ser-lhe atribuído o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada. No mesmo ano, recebeu o prémio Bordalo, atribuído pela Casa da Imprensa e, mais recentemente, em 2018, a Universidade de Évora distinguiu-o com o título de Doutor Honoris Causa. Em 2019, o MUHNAC designou-o como diretor emérito do museu.
Livros de divulgação científica:
1977-78 – Geologia, Vols. I, II e III, edição do Ministério da Educação (Ano Propedêutico).
1980 – Geologia, Volume I – A Terra, em colaboração com G. Pereira, J. Brandão, O. Vau e P. Baptista, Livraria Popular Francisco Franco, Lisboa.
1981 – Geologia, Vol. II – Geodinâmica, em colaboração com G. Pereira, J. Brandão, O. Vau e P. Baptista, Livraria Popular Francisco Franco, Lisboa.
1989 – Dinossáurios, edição da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, Colecção Natura.
1991 – A Vida e Morte dos Dinossáurios, em colaboração com Nuno Galopim de Carvalho, Gradiva.
1991 – Geologia do Arquipélago da Madeira, em colaboração com J. Brandão, edição do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa.
1994 – Dinossáurios e a Batalha de Carenque, Editorial Notícias.
1995 – Mineralogia e Cristalografia, edição da Universidade Aberta.
1996 – Morfogénese e Sedimentogénese, edição da Universidade Aberta.
1997 – Petrogénese e Orogénese, edição da Universidade Aberta.
2000 – Guadiana Antes de Alqueva, edição da Direcção Geral do Ambiente, Évora.
2000 – Introdução ao Estudo dos Minerais, com uma 2ª edição em 2002, Âncora Editora.
2002 – Introdução ao Estudo do Magmatismo e das Rochas Magmáticas, Âncora Editora.
2002 – Dinossáurios – Uma Nova Visão, em colaboração com J. P. Barata e Vanda Santos, Âncora Editora.
2003 – Geologia Sedimentar, Volume I, Sedimentogénese, Âncora Editora.
2004 – Geologia Sedimentar, Volume II, Sedimentologia, Âncora Editora.
2006 – Geologia Sedimentar, Volume III, Rochas Sedimentares, Âncora Editora.
2007 – Como Bola Colorida, Âncora Editora.
2008 – Contos da Dona Terra, em colaboração com M. H. Henriques e M. J. Moreno. Comissão Nacional da UNESCO e C.M. de Cascais. Soc. Industrial Gráfica.
2011 – Dicionário de Geologia, Âncora Editora.
2012 – Era uma vez…com Ciência, Âncora Editora.
2013 – Conversas com os Reis de Portugal, Âncora Editora.
2014 – Evolução do Pensamento Geológico, nos contextos filosófico, religioso, social e político da Europa, Âncora Editora.
2015 – As Pedras e as Palavras, Âncora Editora.
2017 – O Avô e os Netos falam de Geologia, Âncora Editora.
2020 – As Pedras na Ciência e na Cultura, Âncora Editora.